domingo, 8 de janeiro de 2017

CEM ANOS DA GRANDE TRAGÉDIA EM GARANHUNS


Neste mês de janeiro de 2017 completa 100 anos que ocorreu a hecatombe de Garanhuns.

Uma página triste da história do município, quando mais de duas dezenas de pessoas foram assassinadas em função de atitudes intempestivas, equívocos, brigas políticas e por vingança.

A ORIGEM DO CONFLITO - Do fim do século XIX até 1912 a família Jardim deteve o poder em Garanhuns. A partir desse ano a política passou a ser comandada pelo coronel Júlio Brasileiro.

A rivalidade entre essas duas facções políticas era grande e envolvia também a família Miranda, aliada dos Jardins.

Em 1916 é formado um forte grupo de dissidentes, com a participação da família Jardim, para concorrer à prefeitura, tendo candidato o Dr. José da Rocha Carvalho.

O grupo tinha o apoio de nomes de prestígio na época, como o major Sátiro Ivo,  os médicos Rocha Júnior e Borba de Carvalho e do próprio prefeito da época, Francisco Vieira dos Santos, que foi eleito pelo grupo do coronel, mas rompeu com este.

Os situacionistas, então, para não perder o poder lançaram a candidatura do deputado Júlio Brasileiro ao Governo Municipal e este obteve uma vitória expressiva.

A eleição foi anulada por conta de denúncias de irregularidades, o povo teve de voltar às urnas e Júlio, sem concorrentes, ganhou outra vez. Não chegou a assumir por conta da tragédia do ano seguinte.

Segundo os historiadores o coronel era um “fidalgo rural educado”, que fazia amigos com facilidade. Ele não era violento, mas tolerava abusos de seus correligionários.

Foram os familiares do coronel, principalmente seu irmão mais novo, Eutíquio, que precipitaram a tragédia.

SALES VILA NOVA – O capitão Sales Vila Nova era amigo e compadre de Júlio Brasileiro. Tinha, no entanto, um caráter irrequieto e mania de ser do contra. Começou a denunciar, através de artigos de jornais, abusos praticados pelo grupo que estava no poder.

Eutíquio então, contratou seis homens para dar uma surra de cipó de boi no Capitão.

Embora fosse pacato - ninguém podia julgar que pudesse matar alguém - Vila Nova não suportou a humilhação. Pegou um trem para o Recife, foi até o Café Chile, que era vizinho ao Diário de Pernambuco, e neste local, encontrando o coronel Júlio Brasileiro disparou vários tiros e matou o líder político garanhuense.

Quando a notícia do assassinato chegou a Garanhuns a viúva do coronel,  Ana Duperon, exigiu vingança. 

Disse que não derramaria uma lágrima pelo marido enquanto ele não fosse vingado.

Vila Nova agiu por conta própria, tendo matado Júlio Brasileiro como forma de se vingar da surra que lhe fora dada. Mas a família do coronel botou na cabeça que tudo tinha sido uma trama envolvendo a oposição, à frente as famílias Jardim e Miranda.

Houve então como que um complô, envolvendo Ana Duperon, o delegado e tenente Antônio de Pádua, o juiz José Pedro de Abreu, o oficial reformado Antônio Padilha e diversos correligionários de Júlio Brasileiro, para assassinar os considerados responsáveis pela morte do deputado.

Foi formulado um plano para levar os inimigos para a cadeia pública, sob o pretexto de dar-lhes segurança.

Tudo não passou de uma armadilha e os que foram detidos foram mortos dentro do prédio público, sem nenhuma chance de defesa.

Padre Benigno Lira ainda tentou evitar a tragédia chamando os Brasileiro à razão. Não conseguiu.

A cadeia foi invadida, o Cabo Cobrinha tombou defendendo a vida dos que estavam sob a sua guarda e a chacina foi praticada covardemente.

Foi preciso vir um trem do Recife com reforço policial para acalmar os ânimos em Garanhuns. Depois dos crimes praticados na cadeia, outras mortes aconteceram, de modo que o gesto tresloucado de Sales Vila Nova resultou no final das contas em mais de 20 pessoas mortas, entre familiares dos Brasileiro, dos Jardim, dos Miranda, além de bandidos contratados para a matança que também tombaram.

LIVROS – Os acontecimentos de 1917 foram noticiados por toda a imprensa da capital e jornais do Centro Sul. O assunto foi abordado também em livros como “A Anatomia de Uma Tragédia – A Hecatombe de Garanhuns”, do juiz Mário Márcio de Almeida e "História de Garanhuns", do historiador Alfredo Leite.

Mais recentemente, o professor Cláudio Gonçalves de Lima publicou “Os Sitiados”, em que narra a história da hecatombe usando técnicas de romancista.

Desde o ano passado foi criada uma Comissão do Centenário da Hecatombe de Garanhuns.  Esta organizou,  de 5 a 15 de janeiro de 2017 uma significativa programação para marcar os 100 anos da tragédia que aconteceu no município.

“O fato histórico completará 100 anos no próximo dia 15 de janeiro e será lembrado com uma exposição, palestras, culto de ação de graça e missa”, informam os que integram a Comissão.

Haverá também sessão solene na Câmara de Vereadores, caminhada e uma placa alusiva a data que será fixada no prédio da Compesa, na Praça Irmãos Miranda, local onde ocorreu a chacina. Naquela época, no local, funcionava uma delegacia e a cadeia pública da cidade.   

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO: 
05 a 30/01 – Exposição do Memorial da Hecatombe de Garanhuns. Local: Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns - Praça Dom Moura, 44 - Centro -  Horário: 08:00 às 17:00 horas.

10/01
– Apresentação dos trabalhos da Comissão da Hecatombe – Vereador Audálio Ramos Machado Filho. Local: Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns. Horário: 19:30 horas.

11/01
– Palestra: “O Cangaço no Agreste Meridional” – Professor e escritor Antônio Vilela. Local: Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns. Horário: 19:30 horas.

12/01
- Palestra: “Hecatombe de Garanhuns – Interpretação Baseada na Política Salvacionista” – Professor e Escritor José Cláudio Gonçalves de Lima. Local: Academia de Letras de Garanhuns. Horário: 19:30 horas.

13/01
– Sessão Solene Câmara de Vereadores de Garanhuns – Homenagem do 9º BPM ao Cabo Cobrinha e aos soldados mortos na Hecatombe de Garanhuns e palestra: O jovem Tenente Theophanes Ferraz Torres e suas enérgicas providências na Hecatombe de Garanhuns - Escritor Geraldo Ferraz – Horário: 19:30 horas.

15/01
– Caminhada da Paz “Caminhantes do Parque”– Saída ás 07:00 horas do Parque Euclides Dourado.

- Fixação de placa na Loja de Atendimento da Compesa (antiga cadeia). Local: Praça irmãos Miranda. Horário: 09:00 horas.

 - Culto na Igreja Presbiteriana Central. Horário: 10:00 horas.

- Missa na Catedral de Santo Antônio. Horário: 19:30 horas.


Apoio: Prefeitura Municipal de Garanhuns, Instituto Histórico e Geográfico de Garanhuns, Academia de Letras de Garanhuns, Compesa, 9º BPM, CDL, Caminhantes do Parque, Igreja Presbiteriana Central, Diocese de Garanhuns e SESC Garanhuns.
Cadeia Pública na época da Hecatombe

*Fotos:  1 e 2) terradomagano.blog.spot.com; 3) Site da Universidade Federal da Paraíba

**Texto gentilmente roubado lá do blog de Roberto Almeida.

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