quinta-feira, 24 de novembro de 2011

No ano de 1972, a UNESCO selecionou livros de 57 países com o objetivo de informar o que de melhor vem sendo escrito no mundo para crianças. Foram incluídos dez livros de cada país. Entre esses dez do Brasil, dois são de LUÍS JARDIM: O BOI ARUÁ e PROEZAS DO MENINO JESUS...


GARANHUNS SENTE-SE HONRADA POR TER UM ESCRITOR QUE FEZ PARTE DA MELHOR GERAÇÃO DE HOMENS DAS LETRAS DO SÉCULO XX. ENTRE TANTOS DESTACAM-SE: Gilberto Freyre, João Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Ciro dos Anjos, Aurélio Buarque de Hollanda, Thiago de Mello, Afonso Arinos de Melo Franco, Carlos Drumond de Andrade, José Lins do Rego, Barbosa Lima Sobrinho, Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos e o dicionarista Antonio Houaiss(Todos, amigos de confidências de LUÍS JARDIM).




GARANHUNS PARIU DOIS LUÍS INÁCIOS TOTALMENTE ANTAGÔNICOS, UM COM “Z” OUTRO COM “S”. UM DELES, É ANALFABETO DE PAI, MÃE E PARTEIRA E SÓ SABE  QUE A LETRA “O” É REDONDA PORQUE TOMA CACHAÇA NUM COPO E TEM UM FOREBA PARA EXPELIR IMPUREZAS E PORCARIAS. JÁ O LUÍS INÁCIO COM “S” É UMA PESSOA INSTRUÍDA, CULTA E  DA MAIOR ESTIRPE. UM INTELECTUAL DE ASCENDÊNCIA, COM TRONCO FAMILIAR DA MELHOR LINHAGEM E PURO DE ORIGEM.

Luís Inácio de Miranda Jardim nasceu em Garanhuns, no dia 8 de dezembro de 1901. Filho de Manuel Antônio de Azevedo Jardim e Angélica Aurora de Miranda, foi uma criança doente e por conta dos seus problemas de saúde só frequentou escola até os 13 anos. Com apenas 17 anos de idade, Luís Jardim teve de deixar a terra natal. Em 1917 o deputado Júlio Brasileiro, representante do município na Assembleia Legislativa do Estado, foi assassinado a tiros, no Recife, pelo capitão Sales Vila Nova. Esse crime deu origem a chamada HECATOMBE DE GARANHUNS, episódio triste e marcante da terra das Sete Colinas. A viúva do deputado, Ana Duperron, ordenou o assassinato de todos os integrantes das famílias Miranda e Jardim. Por conta de um ato isolado do capitão Sales Vila Nova muitos perderam a vida, inclusive o pai daquele menino que iria se tornar no futuro um dos maiores desenhistas e escritores brasileiro. Luís Jardim foi morar na capital pernambucana e lá trabalhou na casa de um senhor chamado Elpídio Godim, fazendo serviços gerais. Nesta residência conheceu um professor que o incentivou a voltar a estudar, a conhecer a gramática e a aprender inglês. O garanhuense tomou gosto pela leitura e desenvolveu também o talento de desenhista,  que já fora despertado no município onde nasceu. Como ilustrador, publicou seus primeiros trabalhos na Revista do Norte e no jornal A Província. A partir daí, ilustrou muitos livros, com destaque para o Guia Prático Histórico e Sentimental do Recife, do sociólogo Gilberto Freyre. O autor de Casa Grande e Senzala, Osório Borba e Joaquim Cardoso seriam intelectuais com os quais Jardim faria amizade no Recife. Incentivado por Gilberto Freyre, Luís resolveu se mudar para o Rio de Janeiro. Na então capital da República, fez exposição de seus desenhos e pinturas, tendo, em 1937, participado de um concurso do Ministério da Educação e conquistado os dois primeiros lugares com histórias do folclore brasileiro reunidas nos livros O Boi AruáO Tatu e o Macaco. “É o mais belo livro do gênero escrito no Brasil”, escreveria o escritor Monteiro Lobato, para definir a ficção de O Boi Aruá. Em 1938 ocorreu um dos episódios mais comentados da Literatura Brasileira até hoje. Luís Jardim conquistou o prêmio Humberto de Campos do concurso de contos, tendo vencido o mineiro Guimarães Rosa, que inscreveu a sua primeira versão do livro Sagarana. O júri ficou dividido, mas o último voto confirmou a vitória de “Maria Perigosa” e seu autor. No futuro, Guimarães teria maior reconhecimento nacional e internacional e alguns jurados fizeram autocrítica, admitindo que erraram. O escritor de Grandes Sertões Veredas seria considerado gênio e um dos maiores nomes da literatura mundial. Logicamente mesmo que o mineiro tenha produzido uma obra de mais qualidade, isso de maneira nenhuma tira os méritos do escritor pernambucano de Garanhuns. Luís Jardim foi um ótimo escritor e Maria Perigosa ainda hoje é um livro de contos que pode ser lido com satisfação intelectual. Nas histórias desse livro, o escritor retrata a cidade de sua infância e adolescência, assim como mostra a região. Os Borrego de Capoeiras (à época quase um sítio pertencente a São Bento do Una), por exemplo, aparecem em um dos contos desse livro que pelo menos no ano do seu lançamento foi considerado melhor que Sagarana. No conto “Os Cegos”, é bonita a discrição, logo no início, da Serra do Tará, que fica no município de Caetés e apareceu com destaque também, tantos anos depois, no filme “Lula, o Filho do Brasil”, de Fábio Barreto. Autodidata, Luís Jardim firmou seu nome na cultura brasileira tanto como escritor, ilustrador, pintor e tradutor. A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Muller, foi uma das obras estrangeiras que recebeu versão em português graças ao intelectual garanhuense. Boa parte dos livros de Jardim têm caráter autobiográfico, caso do próprio Maria PerigosaAs Confissões do Meu Tio Luís Gonzaga e principalmente O Meu Pequeno Mundo. Luís Jardim foi destaque também na literatura infanto-juvenil. Escreveu dois livros memoráveis para os jovens: As Proezas do Menino JesusAventuras do Menino Chico de Assis. O primeiro deles recebeu o prêmio Monteiro Lobato em 1968 e foi saudado em versos pelo maior poeta do Brasil até hoje, Carlos Drummond de Andrade. Luís Jardim faleceu no Rio de Janeiro, no primeiro dia do ano de 1987. Em Garanhuns, a maior homenagem que se prestou até hoje ao seu maior escritor foi a construção do Espaço Cultural Luís Jardim, feito numa das gestões do ex-prefeito Ivo Amaral. Abaixo um pequeno trecho de Proezas do Menino Jesus: “Se neste sonho quem sonha não sabe que o sonho do outro menino é o mesmo sonho de quem sonhou; e se não sabe que o menino sonhado é o mesmo menino que sonha; se não sabe é porque não é tempo ainda de o menino saber que Ele era antes, é agora e será para o resto do sempre depois. Ele nasceu, mas antes do antes já era; Ele morreu, mas está vivo no Depois. Tudo cabe no espaço, mas Ele passa o infinito. Nem d’Ele se diga: foi; e nem d’Ele se diga: será, que Ele é Aquele que É.” Confira o início do conto “Os Cegos”, do livro Maria Perigosa: “Quando o velho Borges botou a cabeça fora da janela, sentindo o tempo, a barra da manhã nascia na Serra do Tará. O cinzento da madrugada diluía-se no clarão que vinha surgindo, e o chão, distante, ia tomando formas entre as sombras da mataria detrás de casa. Na frente, na burra-leiteira onde se amarravam os cavalos, os passarinhos cantavam.”  (Este texto foi gentilmente roubado através do CTRL “c” e CTRL “v” lá do Blog Agenda Garanhuns do Wagner Marques com a seguinte manchete: “Conheça Luís Jardim através do jornalista Roberto Almeida. - Originalmente publicado em seu Blog, e no jornal Correio Sete Colinas – A manchete nem  a imagem fazem parte do texto original)










Um comentário:

Wagner Marques disse...

Valew, pela força Altamir!

abração